Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2017

Oração do Milho

Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres. Meu grão, perdido por acaso, nasce e cresce na terra descuidada. Ponho folhas e haste e se me ajudares Senhor, mesmo planta de acaso, solitária, dou espigas e devolvo em muitos grãos, o grão perdido inicial, salvo por milagre, que a terra fecundou. Sou a planta primária da lavoura. Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo. E de mim, não se faz o pão alvo, universal. O Justo não me consagrou Pão da Vida, nem lugar me foi dado nos altares. Sou apenas o alimento forte e substancial dos que trabalham a terra, onde não vinga o trigo nobre. Sou de origem obscura e de ascendência pobre. Alimento de rústicos e animais do jugo. Fui o angú pesado e constante do escravo na exaustão do eito. Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante. Sou a farinha econômica do proletário. Sou a polenta do imigrante e a miga dos que começam a vida em terra estranha. Sou apenas a fartura generosa e despreocupada

Símbolo de continuidade.

Toni, um humilde ajudante de cozinha de Ludovico o Mouro, seria o inventor de um dos doces mais característicos da tradição italiana. Eis a história: na véspera de Natal, o cozinheiro-chefe de Sforza queimou o doce preparado para o banquete ducal. Toni, então, decide sacrificar o pão de levedura-mãe que tinha reservado para o seu Natal. Ele o prepara bastante com farinha, ovos, açúcar, uvas passas e frutas cristalizadas, até obter uma massa macia e muito levedada. O resultado é um sucesso estrondoso, que Ludovico o Mouro chama de Pão de Toni, em homenagem ao criador. A primazia de Toni não é assim tão pacífica O empreendedor ajudante de cozinha disputa com outros criadores da confeitaria, entre os quais se destacam Ughetto degli Atellani e a Irmã Ughetta. No entanto, o lugar da disputa não é na história e sim no imaginário colectivo: a história de Toni e as outras são lendas criadas entre o fim do século XIX e início do XX para ilustrar ainda mais o que já era orgulho da gastronom

Adélia Prado

Salvador Pèrez Bassols (Espanha 1948) Mulher com chapéu lendo

Mario Quintana - O Tempo - Motion Type

O operário em construção Rio de Janeiro , 1959

 Abramo, Lívio Operário , 1935 xilogravura 19 x 19 cm Coleção de Artes Visuais Era ele que erguia casas Onde antes só havia chão. Como um pássaro sem asas Ele subia com as casas Que lhe brotavam da mão. Mas tudo desconhecia De sua grande missão: Não sabia, por exemplo Que a casa de um homem é um templo Um templo sem religião Como tampouco sabia Que a casa que ele fazia Sendo a sua liberdade Era a sua escravidão. De fato, como podia Um operário em construção Compreender por que um tijolo Valia mais do que um pão? Tijolos ele empilhava Com pá, cimento e esquadria Quanto ao pão, ele o comia...  Mas fosse comer tijolo! E assim o operário ia Com suor e com cimento Erguendo uma casa aqui Adiante um apartamento Além uma igreja, à frente Um quartel e uma prisão: Prisão de que sofreria Não fosse, eventualmente Um operário em construção. Mas ele desconhecia Esse fato extraordinário: Que o operário faz a coisa E a coisa faz o operário. De forma que, cert

O Tempo e as Jabuticabas - Rubem Alves

Poema em Linha Reta - Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.  E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo.   Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.  Toda a gente que eu conheço e q

A ARTE DE EDUCAR

“Educar é mostrar a vida a quem ainda não a viu. O educador diz: “Veja!” e, ao falar, aponta. O aluno olha na direção apontada e vê o que nunca viu. Seu mundo se expande. Ele fica mais rico interiormente… E ficando mais rico interiormente ele pode sentir mais alegria – que é a razão pela qual vivemos. Já li muitos livros sobre Psicologia da Educação, Sociologia da Educação, Filosofia da Educação… Mas, por mais que me esforce, não consigo me lembrar de qualquer referência à Educação do Olhar. Ou à importância do olhar na educação, em qualquer um deles. A primeira tarefa da Educação é ensinar a ver… É através dos olhos que as crianças tomam contato com a beleza e o fascínio do mundo… Os olhos tem de ser educados para que nossa alegria aumente. A educação se divide em duas partes: Educação das Habilidades e Educação das Sensibilidades. Sem a Educação das Sensibilidades, todas as habilidades são tolas e sem sentido. Os conhecimentos nos dão meios para viver. A sabedoria nos dá r

Os poemas

Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês. Quando fechas o livro, eles alçam voo como de um alçapão. Eles não têm pouso nem porto alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem. E olhas, então essas tuas mãos vazias, no maravilhoso espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti... QUINTANA, Mário. Esconderijos do tempo. Porto Alegre, L&PM, 1980.

Divino Maravilhoso

Atenção ao dobrar uma esquina Uma alegria, atenção menina Você vem, quantos anos você tem? Atenção, precisa ter olhos firmes Pra este sol, para esta escuridão Atenção Tudo é perigoso Tudo é divino maravilhoso Atenção para o refrão É preciso estar atento e forte Não temos tempo de temer a morte Atenção para a estrofe e pro refrão Pro palavrão, para a palavra de ordem Atenção para o samba exaltação Atenção Tudo é perigoso Tudo é divino maravilhoso Atenção para o refrão É preciso estar atento e forte Não temos tempo de temer a morte Atenção para as janelas no alto Atenção ao pisar o asfalto, o mangue Atenção para o sangue sobre o chão Atenção Tudo é perigoso Tudo é divino maravilhoso Atenção para o refrão É preciso estar atento e forte Não temos tempo de temer a morte Compositores: Gilberto Gil / Emanuel Viana Teles Veloso Caetano

O Vento - Procelaria - A Dona do raio e do vento Maria Bethânia

Vamos chamar o vento Vamos chamar o vento Vamos chamar o vento "É vista quando há vento e grande vaga Ela faz um ninho no enrolar da fúria e voa firme e certa como bala As suas asas empresta à tempestade  Quando os leões do mar rugem nas grutas Sobre os abismos, passa e vai em frente Ela não busca a rocha, o cabo, o cais Mas faz da insegurança a sua força e do risco de morrer, seu alimento Por isso me parece imagem e justa  Para quem vive e canta num mau tempo" O raio de Iansã sou eu Cegando o aço das armas de quem guerreia  E o vento de Iansã também sou eu  E Santa Bárbara é santa que me clareia (2x) A minha voz é vento de maio Cruzando os mares dos ares do chão Meu olhar tem a força do raio que vem de dentro do meu coração O raio de Iansã sou eu Cegando o aço das armas de quem guerreia E o vento de Iansã também sou eu E Santa Bárbara é santa que me clareia Eu não conheço rajada de vent

Atual!

Aprendi a escrever lendo, da mesma forma que se aprende a falar ouvindo. Naturalmente, quase sem querer, numa espécie de método subliminar. Em meus tempos de criança, era aquela encantação. Mário Quintana

Lendas do Ouro

O ouro inspirou muitas lendas, e a maioria delas envolve a busca por algum tesouro perdido. Uma das lendas mais antigas é o mito grego do rei Midas. Quando o deus Dionisio lhe concedeu um único pedido, o rei Midas pediu que tudo que ele tocasse se transformasse em ouro. O desejo lhe foi concedido e ele, no início, ficou muito feliz. No entanto, a lenda é uma advertência contra os prazeres efêmeros proporcionados pelas coisas materiais: o rei Midas descobriu que não conseguia mais comer porque os alimentos se transformavam em ouro, ao tocar a filha, ela também transformou-se em ouro. Um antigo conto popular alemão, A Canção dos Nibelungos, fala de uma raça de anões que rouba o ouro das sereias do Reno. Um dos anões fabrica um anel de ouro que lhe confere o poder de dominar o mundo. A história serviu de inspiração a Richard Wagner para compor o ciclo de óperas O Anel dos Nibelungos. No século XVI, aventureiros espanhóis se dirigiram à América em busca do “El Dorado” (o homem de o

“ DEUS NÃO É O DEUS DOS MORTOS, MAS O DEUS DOS VIVOS” ( Mt 22,52 )

Os que morrem desaparecem aos olhos. Não desaparecem, contudo, aos olhos de Deus: Ele conhece suas moradas e conhece a sua sorte, Ele que os “ amou até o fim.” Nós porém, poderemos reunir-nos a eles, comunicar-nos com eles? Ocuparam alguns lugar tão grande em nossa vida; foram a luz de nossos olhos a causa de nossa alegria, a alma de nossa alma; e tudo isso teria acabado para sempre? Como poderia acabar, se o homem é mais espirito do que carne e se realmente compartilhamos do que h avia neles de mais intimo e espiritual? Mas como encontrá-los e por que meio atingi-los, a não ser nos recolhendo em nós mesmos, e no ais profundo de nosso ser? Se verdadeiramente eles adormecem no Cristo, como nos é permitido esperar foi certamente para escaparem a todos as necessidades materiais, a todas as vicissitudes da exterioridade: só há, pois um meio realmente eficaz de nos reunirmos a eles, é o de nos estabelecermos também no plano de interioridade aonde chegaram, esforçando-nos por viver

ler...lendo...lido

Palavras &folhas!

Se não é gripe, é crônica

Não consigo respirar! Abro os olhos para a escuridão e meu desespero aumenta. Levanto a cabeça na esperança de mais ar, mas ela lateja tanto que volto a deitar. Desesperado e sem querer perturbar o sono dele, levanto arrastando comigo cobertor e travesseiro e vou me instalar na sala. Numa tentativa de vencer o vírus que me domina engulo resignado o antibiótico receitado pelo médico do pronto-socorro. E assim tem início mais um dia de pensamentos ocos e de palavras simples me fugindo da memória. Se eu fosse hipocondríaco até que estaria curtindo, mas não tive essa sorte. Que saco, tudo dói, a dor pulsa impiedosa, sinto meu corpo esfarelado, não sei mais nem que dia é hoje. Quem foi que abriu a janela? Que frio é esse? FECHA ESSA PORTA! Queria muito agora o chazinho da minha avó, receita secular que minha mãe fez questão de perder. E o tempo não passa. São seis e meia da manhã, não tenho a cara de pau de acordar ninguém nesta casa, meu nariz está totalmente obstruído, a televisão

Capítulo nove do Livro " O MENINO DO DEDO VERDE" - Maurice Druon No qual os sábios nada descobrem, mas o próprio Tistu faz uma descoberta.

As pessoas grandes têm a mania de querer, a qualquer preço, explicar o inexplicável. Ficam irritadas com tudo que as surpreende. E, logo que acontece no mundo algo novo, obstinam-se em querer provar que essa coisa nova se parece com outra que já conheciam há muito tempo. Se um vulcão se extingue calmamente como um cigarro, eis logo uma dúzia de sábios com lunetas debruçando na cratera, escutando, cheirando, descendo por meios de cordas, esfolando os joelhos, enchendo tubos de ar, fazendo gráficos, discutindo, em vez de constatar simplesmente: "Este vulcão parou de fumegar; deve estar de nariz entupido!" Afinal, será que já chegaram um dia a explicar como é que vulcões funcionam? O mistério da cadeia de Mirapólvora forneceu às pessoas grandes um bom pretexto para se agitarem. Os jornalistas e fotógrafos foram os primeiros a chegar, pois é esta a sua profissão. Ocuparam imediatamente todos os quartos do Hotel dos Embaixadores, o único da cidade. Em seguida acorreram

Da costura e do corte

Juntou que fiz aniversário e, no mesmo dia, comecei um curso de corte e costura. Era parte dos desejos antigos e explicáveis: minha mãe costurava. Cresci em meio às linhas, agulhas, tesouras, fitas métricas. Quando eu era pequena, sempre ganhava cortes de tecido de presente, geralmente das tias. Que viravam, pelas mãos da minha mãe, vestidos e blusas. Inventei de perpetuar a tradição e, aos dezesseis, confeccionei para mim um macacão de popeline lilás, sob suas pacientes instruções. Foi a única peça que costuramos juntas – insuficiente para que eu absorvesse seu saber, o bastante para despertar a fome de pano. Já sem ela, na faculdade, arriscava e abastecia meu guarda-roupa através do maquinário herdado. O corte e a costura tomaram ares de adivinhação, tentativa, erro, sorte. Funcionava. Faltava-me, porém, a técnica materna. Ninguém mais me dá cortes de tecido. Acho que é porque nem tenho mais tantas tias. Ou então, porque minha mãe não pode mais fazer minhas roupas. As c

O PRIMEIRO BEIJO

Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme. - Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar? Ele foi simples: - Sim, já beijei antes uma mulher. - Quem era ela?, perguntou com dor. Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer. O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da garotada em algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso como os de uma mãe. Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir - era tão bom. A concentração no sentir era dificil no meio da balbúrdia dos companheiros. E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o barulho do motor, rir, gritar, pensar, sentir, puxa vida! como deixava a ganganta seca. E nem s

Chapéu Violeta - Por Erma Bombeck

Aos 3 anos ela olha pra si mesma, e vê uma rainha. Aos 8 anos ela olha pra si mesma, e vê Cinderela. Aos 15 anos ela olha pra si mesma, vê uma bruxa e diz: - "Mãe, eu não posso ir pra escola desse jeito!" Aos 20 anos ela olha pra si mesma, e se vê: "muito gorda/muito magra, muito alta/muito baixa, com cabelo muito liso/muito encaracolado", mas decide que vai sair assim mesmo... Aos 25 anos ela olha pra si mesma e se vê: "muito gorda/muito magra, muito alta/muito baixa, com cabelo muito liso/muito encaracolado", mas decide que agora não há tempo para consertar essas coisas. Então, sai assim mesmo... Aos 30 anos ela olha pra si mesma e se vê:"muito gorda/muito magra, muito alta/muito baixa, com cabelo muito liso/muito encaracolado", mas diz: "sou uma boa pessoa" e sai mesmo assim... Aos 35 anos ela olha pra si mesma e se vê como é. Sai e vai para onde ela bem entender... Aos 40 anos ela

"Pequeno Príncipe"

Insistir e Perseverar

Osterbaum — ou “Árvore da Páscoa”

Tradição entre os alemães, o Osterbaum — ou “Árvore da Páscoa” — tem sua continuidade na Alemanha de hoje e foi levada a outros países pelos imigrantes, entre eles os que vieram para o Brasil. A árvore é montada com um galho seco, que simboliza a  frieza e morte do sepulcro de Jesus Cristo e enfeitada com ovos e flores, que simbolizam o renascer e a vida. Levar a tradição alemã para dentro de casa é muito simples. Basta um galho seco, flores artificiais, dessas compradas em lojas de R$ 1,99, cascas de ovos de galinha, tinta e verniz. No galho, são colocadas as cascas de ovos coloridas. O ovo significa ou simboliza que há vida dentro dele e dali ela brota, apesar de estar escondida até o momento em que a ruptura acontece. Para preparar os ovos, o processo é simples: reserve cascas de ovos, que devem ter apenas um furo pequeno, pelo qual se retirou o ovo. Lave-as e deixe-as secar de cabeça (furo) para baixo. Pinte as cascas com tinta plástica ou tinta de papel crepom. Também

GC José Jorge Letria Escrita Criativa

Serve e confia

O vestido azul

Num bairro pobre de uma cidade distante, morava uma garotinha muito bonita. Ela freqüentava a escola local. Sua mãe não tinha muito cuidado e a criança quase sempre se apresentava suja. Suas roupas eram muito velhas e maltratadas.  O professor ficou penalizado com a situação da menina. "como é que uma menina tão bonita, pode vir para a escola tão mal arrumada?"  Separou algum dinheiro do seu salário e, embora com dificuldade, resolveu lhe comprar um vestido novo. Ela ficou linda no vestido azul.  Quando a mãe viu a filha naquele lindo vestido azul, sentiu que era lamentável que sua filha, vestindo aquele traje novo, fosse tão suja para a escola. Por isso, passou a lhe dar banho todos os dias, pentear seus cabelos, cortar suas unhas.  Quando acabou a semana, o pai falou: "mulher, você não acha uma vergonha que nossa filha, sendo tão bonita e bem arrumada, more em um lugar como este, caindo aos pedaços?  Que tal você ajeitar a casa? Nas horas vagas, eu vou dar uma pintura