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"O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons."   Martin Luther King

INFORMAÇÃO OU FOFOCA?

Algumas pessoas têm a mania de sempre se disponibilizarem a dar ouvidos a relatos de histórias que, dependendo de quem faz, se transformam em estórias, muitas delas, convenientemente relatadas, outras tantas, maldosamente distorcidas. Todos sabemos disso, mas constantemente somos envolvidos, ouvindo e dando crédito a estes relatos. Dar ouvidos a fofocas pode ser complicado! Podemos nos tornar cúmplices de intrigas maldosamente armadas para prejudicar alguém! Quando você se dispõe a sempre ouvir pessoas que constantemente levam ao seu conhecimento tudo o que aconteceu quando você não estava presente, já lhe passou pela cabeça que ao contrário do que você pensa, talvez o interesse dela não seja que você saiba de tudo, mas pode ser para manipular o seu pensamento e conseguir que você deduza o que ela quer? Quando alguém narra um acontecimento para você, provavelmente sempre relata os fatos da forma que entendeu, ou talvez da forma que ela gostaria que fosse, ou t

Quem lê cata grãos pelos textos alheios. Michel de Certeau

Marchinha de Carnaval - Aurora - compositor: Mário Lago / Roberto Roberti

Uma Galinha – Conto de Clarice Lispector

 Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã. Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio. Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos

O DIA EM QUE PERDI AS RÉDIAS - ALICE BENTO

Sempre que penso em nossa estrutura corpo-psíquica imagino um cavaleiro montado. O cavaleiro é a mente, o cavalo é o corpo e as rédeas a consciência. Domamos nossos cavalos, montamos num piquete fechado, aprendemos a usar as rédeas, estamos seguros na fazenda. A cavalgada começa quando pegamos a estrada da vida adulta. Iniciamos ao passo, com cautela, sem saber o que esperar dessa aventura, de nós e do nosso cavalo. Trotamos, naquele ritmo constante e acomodado. Galopamos, em busca ou em fuga. Voltamos ao passo, para apreciar um percurso, descansar ou manter a calma. Aprendemos a saltar obstáculos e quando o cavalo refuga, o cavaleiro precisa encorajá-lo ainda mais. Nem sempre as rédeas estão firmes, em certos momentos nos deixamos levar. Viver é isso, uma longa cavalgada. Na maior parte do tempo, o cavaleiro tem o controle do cavalo. Às vezes ele o perde, ou porque o cavalo se assusta, ou porque as rédeas afrouxam e, no pior cenário, porque estão completamente soltas.

Oração do Milho

Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres. Meu grão, perdido por acaso, nasce e cresce na terra descuidada. Ponho folhas e haste e se me ajudares Senhor, mesmo planta de acaso, solitária, dou espigas e devolvo em muitos grãos, o grão perdido inicial, salvo por milagre, que a terra fecundou. Sou a planta primária da lavoura. Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo. E de mim, não se faz o pão alvo, universal. O Justo não me consagrou Pão da Vida, nem lugar me foi dado nos altares. Sou apenas o alimento forte e substancial dos que trabalham a terra, onde não vinga o trigo nobre. Sou de origem obscura e de ascendência pobre. Alimento de rústicos e animais do jugo. Fui o angú pesado e constante do escravo na exaustão do eito. Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante. Sou a farinha econômica do proletário. Sou a polenta do imigrante e a miga dos que começam a vida em terra estranha. Sou apenas a fartura generosa e despreocupada

Símbolo de continuidade.

Toni, um humilde ajudante de cozinha de Ludovico o Mouro, seria o inventor de um dos doces mais característicos da tradição italiana. Eis a história: na véspera de Natal, o cozinheiro-chefe de Sforza queimou o doce preparado para o banquete ducal. Toni, então, decide sacrificar o pão de levedura-mãe que tinha reservado para o seu Natal. Ele o prepara bastante com farinha, ovos, açúcar, uvas passas e frutas cristalizadas, até obter uma massa macia e muito levedada. O resultado é um sucesso estrondoso, que Ludovico o Mouro chama de Pão de Toni, em homenagem ao criador. A primazia de Toni não é assim tão pacífica O empreendedor ajudante de cozinha disputa com outros criadores da confeitaria, entre os quais se destacam Ughetto degli Atellani e a Irmã Ughetta. No entanto, o lugar da disputa não é na história e sim no imaginário colectivo: a história de Toni e as outras são lendas criadas entre o fim do século XIX e início do XX para ilustrar ainda mais o que já era orgulho da gastronom