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Se não é gripe, é crônica


Não consigo respirar! Abro os olhos para a escuridão e meu desespero aumenta. Levanto a cabeça na esperança de mais ar, mas ela lateja tanto que volto a deitar. Desesperado e sem querer perturbar o sono dele, levanto arrastando comigo cobertor e travesseiro e vou me instalar na sala. Numa tentativa de vencer o vírus que me domina engulo resignado o antibiótico receitado pelo médico do pronto-socorro. E assim tem início mais um dia de pensamentos ocos e de palavras simples me fugindo da memória.
Se eu fosse hipocondríaco até que estaria curtindo, mas não tive essa sorte. Que saco, tudo dói, a dor pulsa impiedosa, sinto meu corpo esfarelado, não sei mais nem que dia é hoje. Quem foi que abriu a janela? Que frio é esse? FECHA ESSA PORTA! Queria muito agora o chazinho da minha avó, receita secular que minha mãe fez questão de perder. E o tempo não passa. São seis e meia da manhã, não tenho a cara de pau de acordar ninguém nesta casa, meu nariz está totalmente obstruído, a televisão grita, não consigo ouvir nada, a cabeça parece que vai explodir. O dia promete.
Vou entrar na internet para ver se o médico me diagnosticou certo. Então, vamos lá! Vou começar pela cabeça. Dor de cabeça, dor na testa, dor nos olhos…. Acho melhor colocar que dói tudo do pescoço para cima. Mas também dói o peito. Será que escrevo dor do peito até a cabeça? Nossa… muita informação e estou cansado para ler tudo. Vou reduzir. Dor na cabeça toda, no peito, não respiro, não durmo, não quero incomodar ninguém e o meu apetite de sempre sumiu.
Resultados do meu autodiagnóstico: pode ser virose, como disse o médico. Se essa dor no peito permanecer até três dias é pneumonia. E se eu estiver com febre é dengue. E se for febre com alergia no corpo é aquela nova dengue, a Chikv (até parece um nome russo).
Já são 8 horas da manhã e vou acordar o Fábio. Acho que vou desmaiar. Não estou bem.
 Não estou nada bem.Quero colo, quero um remédio mágico, quero minha saúde de volta, quero meus vinte e poucos anos! Ops, peraí. Isso está indo longe demais. Entregar os pontos nunca foi a minha. Sabe o que mais? Vou tomar um banho, me arrumar e ir escrever umas crônicas lá na padaria da esquina. Vai ser melhor que aspirina.
© Crônica coletiva com a participação de Denise Faria, Renata Mendes, Luiz Geraldo Benetton

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