Pular para o conteúdo principal

O MEU CAFÉ

“Para alguns, uma pequena xícara contendo o néctar negro com espuma de ouro é um meio de sobrevivência”. (Tia Odacir)
Cinco horas da madrugada, levanta cambaleando, tropeçando nos móveis, quebrando o dedo mindinho no sofá da sala. É hora de ir para o trabalho. O seu tio Osmair já está lá há um bom tempo, passando o café: duas colheres de pó, quase um litro d’água, três colheres de açúcar. Fogo aceso aguardando as primeiras fervuras. Nunca deixa a água ficar muito tempo ao fogo. Se ficar, o café fica mais amaro.
As lembranças vão e vêm. Lembra-se da vovó Odair lá no sertão de Goiás, nos fins da década de oitenta, quando ainda era criança. Bodoque (estilingue) na mão, ir para o mato caçar passarinho. Banho no ribeirão, pular corda, chicotinho queimado e esconde-esconde. Sem contar as intermináveis manhãs soltando papagaio (pipa) lá no pasto, sem nenhuma moto ou fios de rede elétrica para atrapalhar. Até que viesse uma rajada de vento e pronto. O papel e linha engaranhavam naquelas árvores lindas que já não existem mais…
Café é estimulante, traz boas lembranças. Os políticos não podem nem pensar no café. Eles saíram bem cedo de fazenda em fazenda, não tinham garrafa térmica. Quando o candidato chegava, era café que não acabava mais, requentado. O que salvava a situação eram os biscoitinhos cozido, escaldado, sequinho, bolos de fubá e aquele de amendoim. Uma infinidade de iguarias no meio do sertão. Tinha até um bolo com nome engraçado: o tal de Mané Pelado (?) feito de mandioca (aipim). Passavam até a receita pra gente:
Bolo Mané Pelado
Ingredientes
900 gr de mandioca ralada fina
1 xícara de queijo Minas ralado
3 colheres (sopa) de margarina
2 colheres (sopa) de óleo de soja
4 ovos
2 xícaras de açúcar
1 vidro de leite de coco
1 xícara de coco ralado
Modo de Preparo
Esprema a mandioca para retirar um pouco da água e reserve. Bata os ovos inteiros até espumarem e reserve.
Misture o queijo, a manteiga e o óleo na mandioca. Na sequencia, adicione o açúcar e bata de novo. Adicione os ovos batidos, o leite de coco e o coco ralado e mexa bem até misturar todos os ingredientes.
Unte uma forma de bolo com margarina e enfarinhe. Asse o bolo até começar a dourar.
Lá o mato, tem todo tipo de receitas naqueles velhos cadernos das vovós. Agora não tem graça, está tudo na internet. Naquele tempo, aqueles livrinhos eram um tesouro e passavam de mão em mão.
Gostou? Envie sua colaboração, dicas e informações também. Ajude-nos a deixar nossa xícara mais completa.
Escrito por Kelly Stein em Cultura

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Poema Anjos de uma asa só

Um lenda,um acalento. . .  Não sei se é verdade. . . e não me importo com isso.  Não precisa ser. . . .  Foi há muito tempo atrás. . . depois do mundo ser criado e da vida completá-lo.  Num dia, numa tarde de céu azul e calor ameno. Um encontro entre Deus e um  de seus incontáveis anjos. Acredita?  Deus estava sentado, calado. Sob a sombra de um pé de jabuticaba. Lentamente  sem pecado, Deus erguia suas mãos então colhia uma ou outra fruta. Saboreava  sua criação negra e adocicada.Fechava os olhos e pensava. Permitia-se um  sorriso piedoso.Mantinha seu olhar complacente. Foi então que das nuvens um  de seus muitos arcanjos desceu e veio em sua direção.  Já ouviu a voz de um anjo?  É como o canto de mil baleias.  É como o pranto de todas as crianças do mundo.  É como o sussurro da brisa.  Ele tinha asas lindas. . . brancas, imaculadas. Ajoelhou-se aos pés de Deus e  falou:  ? Senhor. . . visitei sua criação como pediu. Fui a todos os cantos.  Estive no sul, no norte. No leste

A LENDA DO PARDAL (FRONTEIRA)

DIZEM QUE O PARDAL NÃO É DAQUI,QUE FOI ASSIS BRASIL QUEM TEVE A PÉSSIMA IDÉIA DE TRAZER ESTE BICHO EXCOMUNGADO DAS EUROPAS.NÃO PRESTA PARA NADA,INCOMODA UMA BARBARIDADE E AINDA CORRE COM O TICO-TICO E O CANARINHO-DA-TERRA DE TUDO QUANTO É CANTO. É UM BICHO ANTIPÁTICO,QUE NÃO CAMINHA:PARA ANDAR,TEM QUE DAR UNS PULINHOS,COM OS DOIS PÉS JUNTOS,COMO SE ESTIVESSE MANEADO. E ESTÁ MESMO.FOI CASTIGO DE DEUS. QUANDO NOSSO SENHOR ESTAVA FAZENDO OS BICHOS PARA SOLTAR NA TERRA,PERGUNTAVA O QUE CADA UM IA FAZER.E DISSE A POMBA: - EU VOU SER MANSA E TRANQUILA,O SÍMBOLO DA PAZ. - EU VOU CANTAR PARA A ALEGRIA DOS GAÚCHOS. - DISSE A CALHANDRA.E ASSIM POR DIANTE. QUANDO CHEGOU A VEZ DO PARDAL,QUE ERA RABUGENTO E ESTAVA BRABO POR SER DOS ÚLTIMOS NA FILA,ELE SE SAIU COM QUATRO PEDRAS NA MÃO: - EU?POIS EU VOU DAR COICE NO MUNDO E ACABAR COM TODA ESTA PORCARIA,QUE ESTÁ TUDO MUITO MAL FEITO! - AH,VAI? - DISSE NOSSO SENHOR.POIS ENTÃO EU VOU TE MANEAR,PRA QUE TU NÃO DÊS UM COICE NO MUNDO QUE EU FIZ... É POR IS

Mulher Gaúcha Antonio Augusto Fagundes gentileza de Paulo Roberto Vargas

Os velhos clarins de guerra desempoeirando as gargantas quero-querearam no pago. E o patrão coronelado, reuniu em torno parentes, posteiros, peões e agregados. Chegara um próprio do povo trazendo urgente recado que se ia pelear de novo e o coronel, satisfeito, dizia, fazendo graça: "vamos ver, moçada guapa, quem honra a estirpe farrapa e atropela numa carga por um trago de cachaça...Os velhos clarins de guerra desempoeirando as gargantas Um filho saiu tenente, o mais velho - capitão, um tio ficou de major. (o pobre que passa o pior, a oficial não chega, não: o capataz foi sargento, um sota ficou de cabo e a peonada, e os posteiros, ficaram soldados rasos pra pelear de pé no chão...) Carneou-se um munício farto - vindo de estâncias vizinhas - houve rações de farinha, queijo, salame e bolacha, se santinguando em cachaça a sede dos borrachões. E a não ser saudade e mágoa nada ficou pra trás a garganta dos peçuelos misturava pesadelos sanguessugando, voraz, cartuchos e caramelo