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A TORRENTE

Da serra azul, onde a palmeira medra,
Onde paira a neblina, se deriva,
Entre abertos lisins de esconsa pedra,
Um fio de agua viva;

Exiguo e frouxo, palmo a palmo, avança
Pela escarpada; a folha, de passagem,
Leva, rodeia os troncos, não descansa,
Não pára na viagem.

Ora entre os lichens verdes-serpentêa,
Corre entre os fetos, geme na fragura,
Ora caminho aberto em livre areia
Acha, - avança, murmura,

Desce, depois mais volumoso, arreda
Quanto encontra e, augmentado em cada fragua,
Recúa e salta, erguendo em cada quéda
O seu pennacho d'agua;

Com a chuva engrossa, rue no chão de gruta,
Cascata agora, - a penedia bronca
Mina-a em redor, desloca-a, immensa e bruta,
Leva-a, espumeja e ronca;

A tudo investe, abala, desimplanta,
Destróe, derruba, na evulsão crescente,
E ruge das quebradas na garganta
A impetuosa torrente.

Negra socava tetrica, soturna,
Treme e retumba; as aguas passam; - tudo
Geme, - os ninhos, a flor, o antro, a furna,
A'quelle embate rudo.

No valle, emfim, torcendo a crystallina
Juba, se atira e em echos se propaga
A torrente caudal, e ora a campina
E a floresta alaga

Em rio audaz, que as fertiliza e banha,
Calma agora volvendo as ondas fundas;
Pois, como a idéia, as aguas da montanha
Querem ser livres para ser fecunda.

Alberto de Oliveira

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